Ginásio, mulheres e Chega compõem o cocktail perfeito.
Simão também já atingiu a maioridade e é com descontração que se mostra disponível para falar das suas referências nas redes sociais. Concorda com “60 a 70%” do que Numeiro diz, incluindo a ideia de que “mulher que namora não sai à noite”.
Simão não diria as coisas da mesma forma, mas entende que a namorada se deve divertir, sobretudo, com o próprio namorado.
Não gosta que as mulheres se vistam de forma “mais chamativa” para saírem à noite “num sítio com muitos homens”. Até podem sair, mas para outros sítios, “sem ser discotecas, bares...”, diz com convicção.
Os direitos das mulheres estão “num bom caminho”, afirma Simão, que minutos depois se assume contra o direito ao aborto e contra o feminismo que, garante, “leva as mulheres a revoltarem-se com nada”.
A mulher ideal para Simão tem de ter sido sempre “certinha: trabalho, estudo...” – o número de pessoas com quem a rapariga já se envolveu sexualmente é uma preocupação do jovem de 18 anos.
Simão vota no Chega.
Não está sozinho na escola (a maioria dos jovens do 12.º ano entrevistados tem a mesma opinião).
Nem na Quinta do Conde (o Chega venceu nesta freguesia do concelho de Sesimbra com 36,29% dos votos, nas últimas eleições legislativas – uma vantagem superior a 15% face ao segundo mais votado, o Partido Socialista).
Influencers, como Numeiro e o britânico Andrew Tate (acusado de violação e tráfico humano), enriquecem à custa da misoginia e de conselhos sobre como ser um homem bem-sucedido, iludindo os jovens com a promessa de que só não tem dinheiro, quem não trabalha.
O discurso de ódio contra as mulheres anda de mãos dadas com a narrativa neoliberal e meritocrática, explica João Manuel de Oliveira, investigador do ISCTE:
“O sujeito neoliberal é o homem empreendedor” e a misoginia cresce nas “ruínas deixadas pelo neoliberalismo”, da frustração alimentada pela “precarização dos vínculos laborais”.
Conhecemos agora Tiago, aluno de um colégio privado. A história do rapaz de 14 anos mostra que a fragilidade económica não explica tudo.
Tiago, 14 anos

