Este vídeo de Numeiro tornou-se viral e Afonso, 16 anos, também o partilhou no TikTok.
No perfil do adolescente, as partilhas de conteúdo misógino contrastam com as declarações de amor. Até há bem pouco tempo, o jovem estava numa relação.
Pouco depois de ter assumido a sua admiração por Ventura, Afonso bloqueou-nos no TikTok.
Do algoritmo às urnas, o discurso misógino encontra palco e porta-vozes.
“Os ódios destes homens já existiam há imenso tempo”, explica a académica Inês Amaral.
Na Escola Básica e Secundária Michel Giacometti, na Quinta do Conde, Maria João Pinto, professora de História, confessa que nunca foi tão “difícil” falar sobre o 25 de Abril nas aulas.
No piso superior, à porta da biblioteca onde conversamos, está um festival de direitos e liberdades conquistadas em Abril de 74, sob a forma de um painel colorido.
Antes de descermos as escadas para o recreio, ouvimos pela voz de crianças do 6.º ano a canção “Verdes são os campos” – poema de Luís Vaz de Camões, musicado por Zeca Afonso, a voz maior da revolução.
O primeiro jovem que encontramos, junto ao campo de futebol, confidencia-nos que as aulas de História o incomodam.
Miguel (nome fictício), 18 anos, acusa a professora Maria João Pinto de ter opiniões “muito de esquerda”. “Eu sou assumidamente de direita”, remata.
O jovem recorda às gargalhadas o vídeo em que Numeiro exibe o próprio carro de alta cilindrada, personalizado com as cores e o logótipo do partido Chega.
Embora não seja particular fã do influencer, Miguel conhece quem o é e quem o admite sem pudor.
Aponta para Simão Silva, que acaba de sair da aula. É o “rapaz ideal” para conhecermos, garante.

